''Nada de importante acontece sem crashes. E a lição que aprendi na minha carreira é investir no ciclo pós-crash. Quando você faz isso, e faz isso de forma inteligente, você é muito recompensado.'' A frase de Carlota Perez é reflexo da sua teoria sobre as Mudanças de Paradigma Tecnoeconômicas e a teoria das Grandes Ondas, uma releitura de Schumpeter sobre as ondas de Kondratieff e da inovação destrutiva de Thomas Kunn.
Perez ficou conhecida por analisar a história de cinco revoluções tecnológicas e identificar um padrão semelhante: interrupção, frenesi, interrupção via crash e queda e renovação direcionada por crescimento constante e maturidade.
Os 4 estágios da transformação tecnológica
O primeiro estágio da transformação tecnológica é marcado por um novo paradigma que abre vastas oportunidades para novos produtos, processos e serviços e funciona como um imã para o capital financeiro que facilita uma série de outras inovações relacionadas.
Na sequência, vivemos o nascimento da fixação e frenesi, onde os ganhos de capital selvagem alimentam as aventuras de exploração tecnológica e o comportamento de bolha dos mercados.
Na sequência, ocorre um colapso, o capital se desespera, muitas empresas que aproveitaram da selvageria sem um bom gerenciamento de risco morrem e saem os interesseiros e ficam os interessados. A recessão se instala. PARECE QUE TUDO MORREU. Aqui, só os verdadeiros traders ganham dinheiro (ex. GCR, Cobie, Cred)
Com o passar dos meses, a baixa se torna novamente confortável, o capital sai do desespero para o estágio de prudência e as empresas sólidas atraem os interessados.. Aqueles que fizeram bons gerenciamento de risco veem uma oportunidade onde todos veem tragédias e uma nova onda de capital começa a surgir, tímida, mas consistente.
Se você conhece o básico sobre análise técnica sabe que o gráfico é fractal, assim como o framework dos estágios da transformação tecnológica. Podemos considerar que o Bitcoin já viveu 4 grandes crashs ou que viveu 2. Se considerarmos o obituário do Bitcoin, ele já morreu + 400 vezes.
A queda como oportunidade
Com o crash atual das criptomoedas e do mercado financeiro tradicional, tornou-se popular falar sobre grandes empresas que nasceram em meio à crises e sobre como o bear market é importante para os builders.
Facebook e Tesla nasceram no meio da bolha do ponto.com e o Google abriu sua IPO no fundo do poço. Uber e Airbnb nasceram no meio da crise financeira de 2018. A própria Binance nasceu e se desenvolveu na queda de 2017/2018.
No bear market e no ciclo pós-crash as coisas são mais navegáveis:
Os preços e as fees estão baixas, o que permite maiores compras e muito testes. Investindo no pós-crash, seu ROI se torna mais fácil ou pelo menos, se tornará negativo de forma mais difícil.
As empresas mais fracas são abaladas, deixando as empresas fortes com menos concorrência por clientes e funcionários.
O dinheiro não é tão abundante, o que aumenta a criticidade dos investidores e dos produtos.
Para investir de forma inteligente tempo e dinheiro é preciso responder duas questões: quando e em quê.
Quando é o pós-crash?
Ninguém sabe quando exatamente será o início do pós-crash, ainda mais considerando nosso cenário macroeconômico.
Mas há indicadores que nos auxiliam nesse descobrimento. Exemplos incluem análises mais ''fundamentalistas'' (halving e barreira de ciclos anteriores) ou análises técnicas mais específicas (eventos de capitulação, aSOPR ou LTH)
Halving & barreiras de ciclos anteriores
O halving é um fenômeno de aumento da escassez do Bitcoin. Historicamente, o preço do Bitcoin inicia seu rali de alta/momento de acumulação 1 ano antes do halving e inicia seu ciclo de frenesi após o evento. Depois de dois anos de alta, o crash vem, derruba tudo e apenas 1 ano do próximo halving, volta a acumulação.
O próximo halving está programado para junho de 2024. Considerando esse histórico, o pós-crash deve se encerrar em junho de 2023. Em termos de início do pós-crash, durante a queda de 2017/18, entre a ATH e a ATL, foram 343 dias ou 770 dias, levando em conta a distância entre a ATH e o início do rali. Estamos a 252 em crash. Se tomamos como base 2017 e o histórico do halving, entradas entre outubro de 2022 e junho de 2023.
A barreira de ciclos anteriores também pode ser um bom indicativo de quando entrar no pós-queda. Em praticamente 532 dias, o Bitcoin nunca esteve tão barato. Qualquer preço abaixo dos US$20k merece atenção.
Capitulação, aSOPR e Long-Term Holder Cost Basis
A capitulação é um evento drástico, onde grandes perdas são realizadas pelos pequenos investidores (0.1-1 BTC). O pós-crash normalmente é seguido por um evento de capitulação abrangente que elimina todos os vendedores. O colapso da LUNA foi um evento de capitulação que resultou em perdas totais realizadas de US$ 35,5 bilhões em 30 dias. Como a capitulação exige a exaustão do vendedor, os preços tendem a se estabilizar após o evento.
Historicamente, a estabilização da capitulação ocorre quando o Spent Output Profit Ratio/Taxa de Lucro nos Saldos Gastos (SOPR) consegue recuperar a faixa de 1,0, indicando que os usuários estão movendo fundos em lucro e não em perda.
Durante as capitulações de 2015 e 2018, mais de 58% do volume de transferências estava tendo uma perda. Atualmente, 54% do volume total movimento está em prejuízo. O que está muito próximo dos níveis de recuperação de 2015/18. Movimentos ascendentes, capazes de levar o SOPR a faixa dos 48% apontam para início do pós-crash.
O Long-Term Holder Cost Basis / Base de Custo dos Holders de Longo Prazo (LTH) também fornece uma boa indicativa de entrada, já que ela indica o preço médio que investidores experientes pagaram pelas suas posições. Abaixo de 1, o LTH indica uma perda não realizada desses investidores. Atualmente, o LTH está em 0,67, indicando uma posição de perda não realizada para investidores que talvez não estejam dispostos a sair de suas posições.
Pra mim, qualquer posição abaixo dos US$ 20K é confortável. Considerando o cenário macro, reservas para entradas entre US$14-10K também não é uma loucura.
A segunda pergunta: em quê.
Considerando a capitulação do TOP30 que vimos no último ciclo, podemos supor que as mesmas empresas e categorias que lideram a corrida anterior não são as que produzirão os melhores retornos pós-crash. Bitcoin impulsiona o mercado, mas não lidera retorno. DeFi e games foram os propulsores do último ciclo.
Pessoalmente, eu estou particularmente otimista com o lado mais ''concreto da web3'' e ainda não explorado e sem líderes tão concretizados. Isso inclui principalmente: clima, energia, saúde, commodities, alimentos, resíduos reciclados e recuperados e etc.
Pode parecer contra-intuitivo, mas as criptomoedas ainda não estão consolidadas em ativos reais. Os players, processos e tecnologias ainda estão em desenvolvimento. As criptomoedas estão se profissionalizando e bons profissionais não querem criar memes, eles querem resolver problemas globais. O capital de risco evoluiu junto com os assets.
É por isso que na impacta.finance, estamos 100% dedicadas a criação de metodologias de seleção e frameworks para construção dos ativos e soluções que vão liderar os próximos ciclos porque estão resolvendo questões reais.
Entretanto, diferente das dificuldades encontradas em criar soluções online, o desenvolvimento de protocolos e ativos que lidam com problemas reais e ativos físicos é muito maior. E as necessidades desse desenvolvimento esbarram em problemas globais do setor - dos quais não vou entrar em detalhes, mas que incluem: lastro, interoperabilidade, integração para adoção generalizada e confiança.
A disputa vai ser feroz e belíssima.
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